A POLÊMICA DO PARTO NO BRASIL
Nunca se falou tanto em Humanização do Parto como nos últimos tempos no Brasil. Em 2012 aconteceram duas marchas que mobilizaram alguns milhares de pessoas em mais de 20 cidades de norte a sul do país. Defendendo questões relativas à humanização da assistência ao parto, as marchas questionavam igualmente a alarmante taxa de cesáreas realizadas no país, bem como os constantes casos de violência obstétrica praticados diariamente durante o atendimento ao parto nos hospitais públicos e particulares.
A PROIBIÇÃO DAS DOULAS
Ao iniciarmos 2013, uma nova polêmica: duas das maternidades mais famosas de São Paulo proibiram, em comunicado oficial, a presença de doulas em suas instalações. Após repercussão nas redes sociais, publicaram uma nota de esclarecimento dizendo que apenas limitariam o acompanhamento ao parto, podendo a gestante escolher uma pessoa para acompanhá-la, como determina a lei 11.108, de 2005. Embora estas instituições cumpram o que determina a lei, garantindo o direito a um acompanhante à gestante, sabemos que indiretamente esta política resulta no impedimento da participação de doulas nestes hospitais, uma vez que a gestante necessita escolher um acompanhante e a presença do pai ou de um familiar costuma ser prioritária para a mulher que está em trabalho de parto.
Aqui fica clara uma das maiores reivindicações deste movimento: as doulas não deveriam ser vistas como acompanhantes, e sim como profissionais que fazem parte da equipe multidisciplinar de assistência ao parto, podendo a gestante contar com a assistência prestada por estas profissionais, além da presença do acompanhante de sua escolha, já garantido por lei.
Em razão disso, uma nova Marcha está sendo articulada na internet e acontecerá no dia 03 de fevereiro em São Paulo, defendendo o direito das gestantes que queiram ter uma doula em seus partos, sem que seja necessário optar entre a doula e o pai do bebê (ou outro acompanhante de sua escolha).
QUEM SÃO E O QUE FAZEM AS DOULAS
A doula é uma profissional treinada para dar apoio psicológico e físico à gestante (através de massagens, por exemplo), a qual não pode realizar nenhum procedimento medicamentoso ou cirúrgico na parturiente, cabendo esta responsabilidade ao médico.
Sabemos que um dos momentos mais significativos e também desafiantes na vida de uma mulher é o parto de seus filhos.
Na sociedade individualista em que vivemos, a experiência do parto não costuma ser compartilhada e portanto uma gestante provavelmente nunca acompanhou um parto normal para saber como ele acontece. Nossa cultura atual propaga muitos medos e fantasias sobre este momento, o que torna cada vez mais importante a participação das doulas no processo.
Vários estudos demonstram que a presença de doulas é muito positiva para a gestante e para o sucesso do parto e consequentemente para a saúde do bebê. Dentre estes estudos, Klaus e Kennel publicaram em 1993 em “Mothering the mother” uma pesquisa que demonstra a redução de: 50% nos índices de cesáreas, 25% na duração do trabalho de parto, 60% nos pedidos de analgesia peridural , 30% no uso de analgesia peridural , 40% no uso de ocitocina e 40% no uso de fórceps. Após este, muitos outros artigos científicos foram publicados comprovando a eficácia da presença dessa acompanhante qualificada e treinada.
A ARGUMENTAÇÃO DOS HOSPITAIS
A argumentação usada pelos hospitais Santa Joana e Pró Matre é de que a proibição da doula visa diminuir o risco de infecção hospitalar, argumento que não encontra respaldo em qualquer uma das publicações científicas sobre o tema. Por outro lado, os dois hospitais (Pró Matre e Santa Joana) apresentam taxas de cesariana maiores que 90%. De acordo com estudos internacionais, as cesarianas aumentam 400% o risco de infecção em relação aos partos normais, e da forma que são constantemente praticadas no Brasil, agendadas sem que a gestante entre em trabalho de parto, ainda podem aumentar as chances de necessidade de internação do bebê na UTI NEONATAL, o que também eleva o risco de infecções nos recém nascidos.
O modelo obstétrico do Brasil é centrado na equação hospital + médico. Isso é um dos fatores que levam o país a apresentar a maior taxa de cesáreas do mundo, com um percentual geral de 52%, chegando a mais de 80% no sistema privado, muito além do recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que seria de até 15%.
O outro argumento para a restrição estaria, segundo as duas instituições, relacionado à regulamentação da profissão. Porém, as doulas estão incluídas na Classificação Brasileira de Ocupações desde 2012, com formação e atribuições devidamente delineadas, em contrapartida aos fotógrafos e cinegrafistas que são admitidos por estas instituições, inclusive em salas cirúrgicas onde são realizadas as cesarianas, sem que tenham regulamentação da profissão.
Nos cursos de formação de doulas, são ensinados todos os cuidados a respeito de proteção individual e das gestantes, tal qual aprendem fotógrafos e cinegrafistas que trabalham nas maternidades.
OBJETIVOS DA MARCHA DE 03/02
O “Movimento das Mulheres e Homens pelo direito a uma Doula (em qualquer hospital brasileiro durante trabalho de parto, parto e pós-parto)” defende que se estes hospitais realmente estivessem buscando diminuir os índices de infecção, estariam combatendo as cesarianas e não as doulas. Trata-se de um movimento pelos direitos reprodutivos das mulheres, que envolvem o direito à escolha de acompanhantes em sua busca por um parto digno. Sendo assim, trata-se de mais um movimento que visa diminuir as altas taxas de cesáreas no país, além de contribuir indiretamente para a diminuição da taxa se infecção hospitalar, uma vez que os partos normais e naturais apresentam menos risco infeccioso se comparados aos partos cirúrgicos.
A Marcha pelo direito à presença de uma doula partirá do Edifício da Gazeta, passará em frente à Maternidade Pró Matre, seguirá pela Av. Paulista e acabará em frente à Maternidade Santa Joana. Em ambas as maternidades será entregue um abaixo assinado com o pedido de inclusão das doulas como parte da equipe multidisciplinar que atende ao parto, para que sejam reconhecidas como profissionais que prestam assistência à parturiente e não como acompanhantes.
CONTATOS:
Algumas mães que fazem parte do movimento podem dar maiores informações e responder perguntas sobre o tema:
Ana Basaglia (11) 9 9733-0113
Ana Julieta de Oliveira anajulieta24@hotmail.com , tel: 995678650
Ana Maria Fiorini fone 992322867 amfiorini@uol.com.br
Camila Souza Torelli Camilatorelli@gmail.com (11) 99232-7086
Carolina Lopes carolina lopes carolina.lopes.ro@gmail.com 97279-1772
Elisa Motta Iungano tel. 981244693 (tim) ou 36726063 e_iungano@hotmail.com - psicóloga, estuda interação mãe-bebê
Ingrid Oncken, tel 11 985730867, iariane@gmail.com
Natália Coltri Fernandes - tel 2589-6503 e 9-8538-1879 nataliacoltri@gmail.com
Tati Wexler tatiwexler@hotmail.com (fotógrafa de gestantes e partos)
Renata Corrêa 11 -980886357 - renatacorrea@gmail.com
Sandra Pinello Amorim Sandrapinello@gmail.com 11 99450-2121
Soraia Duduss: soduduss@gmail.com 11-98418-3694 (teve parto com doula na Pro Matre há 9 anos)
Roselene Motta roselene@usp.br - arquiteta - 9 9426 1077 - ativista da Parto do Princípio
Advogada que estuda a legislação em torno da assistência ao parto
Ana Lúcia Keunecke, fone 11-99200-1258, anakeunecke@terra.com.br
Outras cidades/estados/país
Mariana Tezini (sobre a situação no interior do estado): ou (11) 9085820214 psicóloga, estuda interação mãe-bebê
Suzan Correa, obstetriz em Londres, que trabalha com doulas em outro país Suzan.c@hotmail.co.uk
Ana Carolina Fialho fialho.ana@gmail.com
Nathalia Silva Flores telefone email floresnathalia@hotmail.com
Ligia Moreiras Sena - ligiamsena@yahoo.com.br
Alguns médicos que trabalham com doulas como parte da equipe:
Jorge Kuhn -
Andrea Campos -
Catia Chuba -
Betina Bitar -
Deborah Klimke -
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