23 de abril de 2012

Mães Emocionalmente Disponíveis - Laura Gutman


artigo de laura gutman, originalmente publicado no jornal argentino la nacion, em 08/04/12.
(livre tradução por ciadasmães)

Nós mulheres temos acessado territórios historicamente ​​reservados aos homens: a livre circulação, a autonomia e independência econômica por meio de nossas profissões ou o que seja que decidimos “fazer”. Esse “fazer” se converteu na imagem através da qual somos reconhecidas como “indivíduas” (escrevo de propósito esta palavra no feminino). Agora, quando uma criança nasce, percebemos que não tínhamos anteriormente imaginado o nível de perda de identidade, independência e autonomia que envolve a presença de uma criança pequena. Criar um filho supõe fundamentalmente contato, conexão, braços, silêncio, intimidade, presença, permanência, sonho, noite, solidão, tempo, sensibilidade, olfato, corpo e intuição. Isto é, totalmente distante do “fazer” ao que estávamos tão acostumadas e com o qual obtivemos visibilidade e valorização. Poderíamos dizer que a maternidade se parece muito com o “não fazer”. No entanto, ocupar-se de um bebê ou criança pequena não é sinônimo de repouso. Muito pelo contrário. É um “estar” que não tem tradução em linguagem laboral. Aí reside o desconforto, se nos apegamos à nossa liberdade pessoal, possivelmente a criança não estará satisfeita. Por outro lado, se decidimos dar prioridade à fusão, perderemos liberdade e vida própria.
Frente ao abismo da invisibilidade do feito materno, o trabalho no mundo público se torna um salva-vidas emocional. Ou então convertemos o feito materno em uma série de atividades supostamente importantíssimas para o futuro da criança. Em suma, estamos sempre tratando de nos salvar.
Como integrar então trabalho e maternidade? Percebendo que o trabalho costuma ser um lugar de nutrição e bem-estar para nós e que, ao contrário, a maternidade é o lugar onde nutrimos ao outro. Por isso, o exercício da função “maternante” requer, obrigatoriamente, não só o apoio efetivo de outros indivíduos, mas também uma valorização coletiva. É responsabilidade de todos nós que a maternidade volte a ter um valor social prioritário. Homens e mulheres. tendo filhos ou não. Se pensamos no futuro como sociedade, se pensamos politicamente, filosoficamente, economicamente, as coisas vão bem apenas se as crianças voltarem a ter um espaço amoroso e íntimo. Para isso necessitam que suas mães estejam emocionalmente disponíveis.